A Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo – APOINME vem a público reiterar seu apoio a todo Povo Warao, às comunidades que se encontram no Brasil, e em especial, àquelas que estão vivendo em estados de nossa área de abrangência.
O Povo Warao é conhecido como navegante, gente de água e canoa, e provém do nordeste da Venezuela, principalmente, do Delta Amacuro, Monagas e Sucre. Na Venezuela, é o segundo maior grupo étnico, contando com mais de 48 mil habitantes, conforme dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística do país, em 2011. Trata-se de uma sociedade pescadora, caçadora e coletora, que também atua em atividades de agricultura, artesanato e carpintaria. Tradicionalmente, o principal alimento dos Warau é o Aru, que, no espanhol do delta do Rio Orinoco, na Venezuela, chama-se Yuruma (farinha/sagu), extraído da palma do Buriti.
Os Warao, assim como os povos indígenas no Brasil, tratam a terra com muito respeito, e se opõem a qualquer forma a humilhação ou opressão de outros indivíduos ou grupos.
A mobilidade do Povo Warao, como estratégia de sobrevivência, está em curso desde 1965, quando um empreendimento represou o Rio Manamo para facilitar a navegação de grandes barcos de carga pesada. Isso impactou significativamente, e de forma muito negativa, o Território Warao, causando mortes de indivíduos, de espécies da fauna e da flora, de recursos naturais vitais, e de elementos culturais essenciais para sua vivência. Consequentemente, muitas famílias migraram para refúgios no interior da selva, e outras se deslocaram para centros urbanos e nunca mais regressaram.
Em 1992, houve novo processo de mobilidade em virtude do surto de cólera no Delta Amacuro. Nesse período, muitos Warao morreram, e outros se deslocaram para as cidades próximas.
Entre os anos de 2014 e 2016, diversas famílias desse Povo passaram a se deslocar para outros países, como o Brasil, em virtude da profunda crise econômica por que atravessa a Venezuela, onde atualmente se impõe a escassez de alimentos, remédios, e suprimentos básicos para a sobrevivência digna do ser humano.
Hoje, há núcleos Warao em quase toda a região Nordeste e em diversas outras do país. Essas famílias vem sobrevivendo de doações e apoios provenientes, em especial, da sociedade civil. Em alguns estados já existam abrigos e as famílias recebem algum tipo de assistência. As comunidades fazem o possível para sobreviver com a venda de artesanatos, mas quando não contam recursos suficientes para se manter, pedem ajuda nas ruas para garantir insumos e serviços indispensáveis a sua subsistência. Como regra, essas comunidades tem sido abrigadas em condições muito precárias de moradia, alimentação, saúde e saneamento.
A APOINME, na qualidade de Organização Indígena reafirma a necessidade de promoção de um acolhimento digno a esses parentes, com respeito as suas especificidades culturais, e se dispõe a parcerias na implementação de ações que contribuam com a oferta de oportunidades para que essas famílias possam trabalhar, produzir e se manter em condições menos desfavoráveis. Sabemos que essas comunidades querem sobreviver do frutos de suas atividades produtivas, e vem buscando se organizar para tanto. Para isso, necessitam de apoio de diferentes atores sociais.
Todas essa informações chegaram a nosso conhecimento a partir de diálgos com famílias Warao e alguns atores que vem apoiando seus processos de subsitência no Brasil, e fundamentalmente, pela leitura do material produzido em 2020 pela liderança Warao, Anibal Perez Cardona, que é professor de seu Povo, e atualmente vive no Rio Grande do Norte.
Convidamos você também a se informar sobre essa situação, e colaborar com os esforços que estiverem a seu alcance para que esses nossos parentes estejam acolhidos de modo solidário entre nós.